O aleitamento materno envolve muito mais do que apenas o ato de nutrir, envolve grandes interações entre a mãe e o bebê, com repercussões importantes sobre o desenvolvimento cognitivo, estado nutricional e também emocional da criança!
Todos sabemos que o aleitamento materno é fundamental para o desenvolvimento do bebê! E essa prática vai muito além do ato de nutrir, pois gera um grande vínculo entre a mãe e o bebê e ainda auxilia no desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.
Conforme as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), a alimentação exclusiva com leite materno deve ser mantida até o sexto mês de vida e deve ser continuada com a introdução simultânea de alimentos suplementares, por 2 anos ou mais.
A produção e liberação do leite dependem do estímulo de dois hormônios: prolactina (que é responsável por estimular a produção de leite pelas glândulas mamárias) e da ocitocina (que estimula a contração da musculatura lisa e ejeção do leite pela mama). É muito importante ressaltar que a produção de leite nem sempre é proporcional ao volume mamário! Mamas pequenas podem, sim, produzir quantidade de leite suficiente para ser possível manter o esquema de aleitamento materno exclusivo, com bom ganho de peso do bebê!
Para que uma produção regular seja mantida, além da presença dos hormônios, é preciso ocorrer sucção periódica e extração regular. Por isso, não se engane: pular uma mamada para aumentar a produção de leite, pode não ser um bom caminho!
Você sabia que cada mãe produz um leite com uma composição única? E dependendo da fase em que estamos no puerpério, produzimos três tipos de leite diferente!
• Colostro: é produzido do 1.º ao 5.º dia após o nascimento, sua cor é amarelada e é rico em proteínas e anticorpos (imunoglobulinas), sendo considerado como a primeira imunização que o bebê recebe, logo após o nascimento.
• Leite de Transição: é produzido entre os 6.º e 10.º dia após o parto, sendo rico em gorduras e açúcares (lactose).
• Leite Maduro: Possui todos os componentes essenciais para o desenvolvimento do bebê, após a segunda semana de vida.
No início da mamada, a coloração do leite é mais branca, pois esse leite anterior é rico em água, sais minerais, vitaminas e anticorpos. No final da mamada, o leite guardado nos ductos posteriores é mais rico em gordura que vai ser responsável pela saciedade do bebê e ajudar no ganho de peso. Por isso é importante esvaziar bem a primeira mama, antes de oferecer a outra, assim o bebê fica bem hidratado e saciado também!
Quando o bebê está em regime de aleitamento materno exclusivo, não sabemos qual a quantidade de leite ingerida em cada mamada. Existe um cálculo de ganho de peso diário para ajudar nessa avaliação. No primeiro trimestre, é esperado que o bebê ganhe em torno de 25-30 g/dia e no segundo trimestre de vida, de 15-20 g/dia. Desda forma, nas consultas de rotina, através do cálculo de ganho de peso diário, conseguimos saber se a ingesta está adequada!
Existem alguns sinais que nos ajudam a avaliar se a pega está correta:
• Queixo do bebê toca o seio materno
• Lábios virados para fora (como um peixinho)
• Nariz não encosta no seio e o bebê consegue respirar livremente
• Grande parte da aréola está na boca do bebê, não apenas o mamilo
• Bochechas ficam cheias quando suga o leite
• A língua do bebê envolve o mamilo e não são ouvidos barulhos ou estalos, apenas a deglutição
• Corpo do bebê fica voltado para a mãe (barriga com barriga)
As principais dificuldades encontradas para a manutenção do aleitamento são:
1) Ingurgitamento mamário
É o que os leigos chamam de “leite empedrado” e é causado pela estase de leite na glândula. Ocorre porque a produção é maior do que a demanda do bebê. Aos poucos isso deixa de ocorrer e o organismo ajusta a produção. O primeiro tratamento é o leitamento livre demanda! A ordenha manual cuidadosa e compressa fria pode ajudar a aliviar o desconforto. Caso a mama esteja muito ingurgitada, pode ser difícil para o bebê acertar a pega! Nesse caso, massagear as mamas e ordenhar uma pequena quantidade de leite para deixar o mamilo menos tenso, ajuda!
2) Fissura mamária
É causada pelo trauma quando a pega não está correta. Pode ser tratada com hidratantes específicos (à base de lanolina) ou com o próprio leite materno. A correção da pega é fundamental para que o problema se resolva! Hoje em dia também usamos laserterapia como tratamento adicional, ajudando na cicatrização das lesões, com ótimos resultados, geralmente.
3) Candidíase mamárias
É causada por uma infecção fúngica, pode causar dor e queimação e dificultam muito a mamada. Nesse caso, é necessário tratamento específico com medicação antifúngica, inclusive com medicação tópica na boca do bebê, para não ocorrer recontaminação.
4) Mastite
É a infecção aguda das glândulas mamárias. Nesse caso, além da dor, a mama fica vermelha, quente e pode inclusive causar febre materna. É necessário tratamento com antibióticos e a lactante deve sempre procurar seu obstetra na suspeita de infecção. Caso contrário, pode evoluir como uma complicação que é a presença de abscesso mamário.
Lembre-se: para ter uma ótima produção de leite é necessário ingerir bastante água, manter uma dieta equilibrada, deixar o bebê sugar e ficar tranquila! O aleitamento materno livre demanda, sem regras rígidas de horários, com a pega adequada e de forma exclusiva é a melhor forma de nutrir seu bebê! Busque uma rede de apoio e divida os cuidados com o bebê e os afazeres de casa, não se sobrecarregue querendo dar conta de tudo! Desta forma o processo de amamentar se torna mais leve e prazeroso, promovendo adequado desenvolvimento para seu bebê.
Dra. Marith Berber
Pediatra e Intensivista
CRM 113.494 / RQE 29.387 / RQE 29.387-1
